Pouco difundida, agricultura urbana
traz benefícios para as cidades
As pessoas que migraram nas décadas passadas continuam morando nas cidades e passando por esses mesmos problemas. Nunca houve um esforço de monta para resolver esses problemas. A pobreza nas periferias é tão grande ou maior do que aquela nas áreas rurais, e vem aumentando. Dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome mostram que no período de 1995 a 1999, enquanto a quantidade de famílias pobres nas áreas não metropolitanas e rurais cresceu, respectivamente, 1,7% e 0,3%, nas regiões metropolitanas este número atingiu 5,4%. Por tudo isso, é estranho perceber que no Brasil pouco é feito ainda no campo da agricultura urbana. A literatura nacional e internacional reconhece há muito tempo que o uso das áreas ociosas das cidades para o plantio de alimentos tem vantagens imensuráveis em diversos aspectos da vida dos moradores. É possível formatar hortas urbanas de maneira a ajudar pessoas desempregadas a gerar renda e melhorar a própria alimentação. Existem também hortas cuidadas por idosos, que assim ganham uma ocupação e recuperam a autoestima. Ambientalmente, nem é preciso explicar que uma plantação nas franjas da cidade tem efeitos positivos como aumento da absorção de água pelo solo e melhoria do ambiente local. Espaços antes ociosos são ocupados, o que contribui para aumentar a sensação de segurança. De uma maneira mais intangível, ocupar esses espaços também contribui para a percepção de que o espaço urbano é bem utilizado, aumentando a sensação de justiça social. Em espaços pequenos, os alimentos geralmente são produzidos com uma quantidade menor de defensivos agrícolas, com ganhos ambientais e de saúde. Apesar de não haver um grande número de projetos nessa área, eles existem. O Ministério do Desenvolvimento Social apoia financeiramente iniciativas das prefeituras em agricultura urbana. Nos últimos cinco anos, houve editais anuais para a liberação de recursos para essas iniciativas. Os valores disponibilizados varia a cada ano. Em 2009 foram liberados R$ 10 milhões, enquanto em 2012, o valor foi de 3,2 milhões. Para saber como funcionam esses projetos, conversei com Hélio Rocha, coordenador-geral de Apoio aos Sistemas Públicos Agroalimentares Locais da Secretaria Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS. Ele explica que são os municípios que elaboram os projetos, enquanto o papel do Ministério é apenas de financiamento. “O convênio prevê repasse para equipamentos e insumos. A contrapartida dos municípios é a contratação de técnicos para suporte aos agricultores”, diz Hélio. Uma das dificuldades de projetos de agricultura urbana é o acesso às áreas onde o plantio é possível. As áreas privadas estão fora do escopo do convênio com o Ministério. As prefeituras devem disponibilizar áreas públicas para as hortas. “Buscamos sensibilizar o poder local para fazer uso das terras ociosas. Buscamos fazer valer a função social da propriedade”, explica o coordenador. As Zonas de Especiais de Interesse Social (Zeis), que estão previstas nos planos diretores, podem ser usadas para esse fim, por exemplo. Outro objetivo do MDS é proporcionar uma cultura sem defensivos agrícolas. “Dadas as dimensões das plantações, o uso de defensivos é pequeno”, conta. A reciclagem de materiais também é incentivada. As hortas têm ainda uma função terapêutica para alguns públicos. “O trabalho na terra tem capacidade de diminuir a incidência de doenças psicossomáticas”. |
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